Ser outono: a arte de contemplar

Há quem atravesse as estações sem se dar conta, mas há aqueles que são, por essência, uma delas. Alguns são verão—intensos, solares, sempre prontos para o próximo movimento. Outros carregam a energia da primavera, florescendo e espalhando vida por onde passam. Mas há aqueles que são outono.

Ser outono não é apenas gostar da estação, mas senti-la na pele, na alma, no tempo das coisas. É ter uma natureza contemplativa, um olhar que percebe a beleza das folhas que caem, não com tristeza, mas com respeito pelo ciclo da vida. É entender que cada despedida traz em si um espaço para algo novo.

Quem carrega essa essência se reconhece na luz dourada das tardes mais amenas, nos passos lentos sobre folhas secas, no cheiro do tempo que muda. É aquela pessoa que sente prazer em observar o balançar das árvores, que se perde em pensamentos profundos sem pressa de encontrar respostas. É alguém que aprecia o silêncio, que sente conforto no recolhimento e que se permite pausas sem culpa.

 

O outono ensina o desapego sem alarde. A folha não luta para ficar no galho, ela apenas se solta no momento certo, dançando com o vento até tocar o chão. Assim também é quem carrega essa essência: sabe que não é preciso segurar o que já cumpriu seu tempo. O outono não apressa e nem retém—ele apenas permite. E então vem o vento. Ah, o vento do outono…

Ele chega sem ser convidado (como se precisasse) mas nunca passa despercebido. Ele não avisa quando sopra, mas quem é outono o sente antes mesmo de ele chegar. Há algo de mágico nesse vento: uma força que se impõe sem ser agressiva, um toque que arrepia sem causar frio. Ele envolve, gira, dança ao redor de quem está atento. Há momentos em que é leve, quase um sussurro, e outros em que se faz presente com mais intensidade, como se quisesse levar consigo o que já não precisa ficar.

 

E é na contemplação que essa estação vive com mais força dentro de quem a sente. Ser outono é enxergar poesia no que passa. É se permitir sentar em silêncio, observar a luz filtrada pelos galhos, ouvir o som das folhas secas sob os pés. É não ter pressa em responder, em decidir, em seguir. É dar ao instante o espaço que ele pede. É um tipo de sensibilidade que não se explica, apenas se percebe. Uma alma outonal não se lança ao tempo, mas se entrega a ele, sabendo que há beleza tanto no início quanto no fim das coisas. Há nostalgia, mas não apego; há intensidade, mas sem ruído. É uma presença que fala sem palavras, um abraço que não precisa ser físico para ser sentido. Ser outono é carregar uma serenidade própria, uma leveza que não vem da superficialidade, mas da aceitação de que tudo se transforma. É ser um pedaço de estação dentro de si, vivendo o tempo não pelo relógio, mas pelo sentir.

E você, já percebeu o quanto de outono há dentro de você?

 

Bem-vindo, Outono

20/03/2025

 

Com Amor 

Ana Amarante